domingo, janeiro 11, 2009

Uma história no café do costume

"Era um café e um queque para levar por favor", disse eu novamente, como faço todos os dias no café ao lado do escritório. É um daqueles sítios que não conseguimos descrever mas que todos temos um assim. Algumas mesas onde pessoas comem tranquilamente o seu pequeno almoço e algumas lêm pausadamente o seu jornal, e com um enorme balcão, ou pelo menos assim o parece, pela quantidade de pessoas que todos os dias ali vão, se encostam por breves momentos e despacham o seu pedido, sempre cheias de pressa para ir para lado nenhum, fazer o que fazem todos os dias.
E a menina do café prontamente iniciou o meu pedido, e tal como todos os dias me entregou o meu café cheio com adoçante e o embrulho do meu queque, cujas calorias compensam as que poupo no adoçante. Todos os dias tem um sorriso nos lábios, e os cabelos presos, pois assim o exige o dono do café, que, não obstante o seu ar simpático, dirige o café com pulso de ferro, e todos os empregados o respeitam e admiram. Sim, que carinho não tem obrigatoriamente que ser confundido com falta de respeito e todos os empregados deste café respeitam o seu dono, esse senhor dos seus 50 anos, que quer aos seus empregados como seus filhos e cujo filho, que também trabalha no café, trata como qualquer outro empregado. Assim se aprende o valor da vida, do dinheiro e do trabalho.
Mas voltando à rapariga, ali estava ela, 9h da manhã, com um sorriso nos lábios, como se eu não fosse o 100º cliente que atendia nesse dia, como se não fosse verdade que se levantara pelas 5h30 da manhã do seu apartamento no Barreiro, para apanhar o barco e depois os transportes para poder abrir o café às 7h da manhã, para receber os primeiros clientes. Também não se notava como se tinha deitado tarde na noite anterior pois depois de ajudar o filho mais velho com os trabalhos de casa, e dar banho ao mais pequeno, ainda tinha preparado o jantar para todos, mesmo a tempo da chegada do seu marido que trabalhava numa fábrica perto de casa, e posteriormente, após a rápida arrumação da cozinha, tarefa na qual o seu marido ajudou colocando a loiça na máquina, tinha deitado ambas as crianças e finalmente pôde passar a ferro toda a roupa que tinha lavado no fim de semana, e ainda a da sua mãe que, como se encontrava doente, ela prontamente ajudava.
Tão prontamente tinha feito isso tudo, tal como delicadamente me tinha entregue o meu queque mto bem embrulhado, juntamente com o talão de caixa.
"Paga na saída por favor", e com essa tirada passou para atender o cliente seguinte, um homem cujas roupas pareciam ter todas as etiquetas viradas para fora de modo que todos pudéssemos saber o quão bem estava na vida, e que interrompeu a sua chamada para pedir rispidamente, "Um café e um croquete", sim, que esta chamada era muito mais valiosa que o pedido do pequeno almoço que iria sorver de repente, assim como de repente estava a ser sorvida toda a sua vida, na qual a empregada do café era uma peça terrivelmente insignificante para não dizer inexistente. Assim, tomaria o seu pequeno-almoço, acenaria uma nota para a menina, não compreendendo que agora se pagava à saída, e ela, com a sua infinita paciência indicava "Pague na saída por favor".
E é assim que muitas vezes nos cruzamos com pessoas, como a menina do café, que provavelmente não conseguimos lembrar-nos de que cor são os seus olhos, mas ela consegue sempre saber como gostamos do nosso café, que gostamos do pão escuro ou claro com muita ou pouca manteiga, e nos retribui sempre um sorriso, independentemente das horas que não dormiu, para as quais não tem o anxiolótico receitado pelo médido porque ela não vai ao médico como nós.

2 comentários:

  1. Anônimo7:01 PM

    Acho que estou a começar a ficar viciada neste blog :p Espero que continue a escrever, estou a gostar muito do que leio :)

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  2. Obrigada Lia! É um incentivo ler estas palavras :)
    Eu tb estou a gostar mto de o escrever!!!!!!!

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